Monday, October 16, 2006

O CANDONGUEIRO*

Paragem do candongueiro:

Sol escaldante
A fustigar gente
Gente aborrecida
De pé, cansada de esperar
Gente entristecida
Com raiva no olhar!

Ao entrar no candongueiro:

Correrias
Gente aos empurrões
Gente aos safanões
Mãos leves puxam carteiras
Mãos malandras nas mbundas das senhoras
É assim todos os dias

Dentro do candongueiro ...

Gritarias
Barulheiras
Gente aos desentendimentos
E a protestar
Gente com vincos nos rostos
E com raiva no falar!

Barulho
Carro velho
Sujo e desconfortante,
Musica alta e ruidosa a incomodar
E a perturbar gente
Gente com raiva no escutar!

Carro abarrotado
De gente
Gente descontente
A reclamar
E mais gente a entrar
Carro de gente empanturrado

Gente apertada
A suar
Gente mal cheirosa encostada
A transpirar
Gente misturada com mercadorias
É assim todos os dias

... E durante a viagem:

Só eu, no meu canto
Não protesto
E até gosto
Do desconforto da viagem,
Um encanto
Viajar ao teu lado jovem
(Glória, sussurraste no meu ouvido
Em cima do muito ruído)

Só eu, aprecio as curvas apertadas
Que o motorista faz
Pois muito me apraz
Sentir tuas pernas encostadas
Às minhas
Olhando de soslaio tuas maminhas

Só eu sinto teu calor
Tua respiração ofegante
E teu agradável odor
Só eu viajo contente
Meu corpo colado ao teu
Teu olhar cravado no meu!

Que a viagem dure eternamente
E que entre mais gente!


Décio Bettencourt Mateus
in "A Fúria do Mar"

* Taxi em Angola

2 comments:

Bettencourt said...

Este poema capta bem a realidade de muita gente em Angola!
Excelente trabalho Vadinho...e um dos meus favoritos poemas!

Keep up the good work
Beijos

José Carlos Moutinho said...

Entrei por acaso neste blog...e descobri maravilhas poéticas.

Bonito design...

Um abraço poético Décio.

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