Sunday, April 06, 2014

ESTE CHOCALHAR DE PÉS

Este chocalhar revolto
em pés empoeirados
e cacimbados
no quente do asfalto
vem do longe dos musseques
e traz o som dos batuques.

Este chocalhar de pernas femininas
a lutar bagatelas
e gritarias
em pedaladas fugidias
vem do longe das sanzalas
e foge a dança das minas.

Vêm perdidas das matas
perdidas das kubatas
estas chocalhadas em chão quente
de sol arrogante
vêm corridas das lavras
e trazem a fome das terras.

Este arrastar de pés zungueiras
com falas de asneiras
em conversa matumba
vem do longe dos musseques
e dança a dança dos batuques
a resmungar o chão da Mutamba.

Este fedor forte
conhece os grãos da estrada
os grãos da caminhada
e vem d’alguma parte
escapulido das minas
vêm d’alguma parte estas chocalhadas femininas.

Esta catinga fedeu-se distante
fugidia deslocada
do kimbo aos gritos mãos na cabeça
desesperançada
sem graça
esta catinga fedeu-se em andanças galopantes.

Este chocalhar em pés encardidos
e rachados
este chocalhar revolto
em pés de zungueira no quente do asfalto
vem do longe dos musseques
e dança a dança dos batuques!

   
Décio Bettencourt Mateus.

in Gente de Mulher.

Luanda, 5 de Agosto 2006.

5 comments:

António Eduardo Lico said...

Bela poesia.

NAMIBIANO FERREIRA said...

Excelente, meu Mano!!
No meio da beleza deste poema há o sofrimento de um passado recente e também o sofrimento presente nas leituras que se podem fazer da eterna dicotomia asfalto/musseque....

um desses dias desvio-o para a Ondjira!!!

Kandandu, Mano.

DECIO BETTENCOURT MATEUS said...

Muito obrigado António Eduardo. Um abraço.

DECIO BETTENCOURT MATEUS said...

Mano, o poema aceita feliz a tua proposta. Obrigado mano.

Um kandandu

Anonymous said...

Muito bom blog! Para quem gosta de poesia:
http://carrovazio.blogspot.pt