Saturday, July 19, 2014

MAR, PORÕES, CORRENTES…


Mar, porões, correntes…
noites de chibatadas
e triângulos de escravatura!,
murmúrios, batuques e gentes:
o amanhecer é uma noite escura
a tatear teias e madrugadas!

Sons, África, gemidos…
a zumbirem melancólicos
chicotadas e cânticos
azul, sal e ranger dentes:
tons África deploram noites surripiadas:
o escuro funde horizontes!

Negros, mar, águas incógnitas…
rumorejam infindas
nostalgia e ondas
caminhos de morte
e sopros de norte:
o destino são vozes roucas desertas!

A morte adormece o mar;
negros, negreiros, navios
o Atlântico repousa oceano
em dorso dorido sereno,
lamentações e luar:
almas escravas choram silêncios!:

Ó Salvador, Salvador, Salvador*
a mesma dor Salvador
pretas, cocos, catanas, baldes e miséria
a mesma dor Luanda-Bahia
o mesmo ritual de páginas escravatura
o mesmo ritual turvo d´amargura.

Ó Salvador, Salvador, Salvador...

* capital do estado brasileiro da Bahia.

Décio Bettencourtt Mateus

in Oxalá Cresçam Pitangas (antologia bilingue Alemão - Português)

3 comments:

NAMIBIANO FERREIRA said...

Lindo-triste poema, meu poeta!
Kandandu, meu Mano.

DECIO BETTENCOURT MATEUS said...

Obrigado mano. Kandandu.

Rosimery Tomás said...

Verdadeiro e triste, mas ainda assim lindo.