Mar,
porões, correntes…
noites de chibatadas
e triângulos de escravatura!,
murmúrios, batuques e gentes:
o amanhecer é uma noite escura
a tatear teias e madrugadas!
Sons, África, gemidos…
a zumbirem melancólicos
chicotadas e cânticos
azul, sal e ranger dentes:
tons África deploram noites surripiadas:
o escuro funde horizontes!
Negros, mar, águas incógnitas…
rumorejam infindas
nostalgia e ondas
caminhos de morte
e sopros de norte:
o destino são vozes roucas desertas!
A morte adormece o mar;
negros, negreiros, navios
o Atlântico repousa oceano
em dorso dorido sereno,
lamentações e luar:
almas escravas choram silêncios!:
Ó Salvador, Salvador, Salvador*
a mesma dor Salvador
pretas, cocos, catanas, baldes e miséria
a mesma dor Luanda-Bahia
o mesmo ritual de páginas escravatura
o mesmo ritual turvo d´amargura.
Ó Salvador, Salvador, Salvador...
* capital do estado brasileiro da Bahia.
Décio Bettencourtt Mateus
3 comments:
Lindo-triste poema, meu poeta!
Kandandu, meu Mano.
Obrigado mano. Kandandu.
Verdadeiro e triste, mas ainda assim lindo.
Post a Comment